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04-MAR-2021

JUSTO EVANGELISTA, GUERREIRO QUILOMBOLA QUE SE TORNOU ANCESTRAL.

JUSTO EVANGELISTA, GUERREIRO QUILOMBOLA QUE SE TORNOU ANCESTRAL.

Por Luzimar Rodrigues 04/03/2021 #direitoshumano

JUSTO EVANGELISTA, GUERREIRO QUILOMBOLA QUE SE TORNOU ANCESTRAL.

Um provérbio africano afirma: "Até que os leões inventem as suas próprias histórias, os caçadores serão sempre os heróis das narrativas de caça" e o testemunho vivencial experienciado na existência de Justo Evangelista da Conceição nos permitiu construir uma nova narrativa. Não aquela dos latifundiários e donos do poder que exerceram e exercem seus mecanismos de opressão sobre comunidades remanescentes de quilombos e o homem do campo, mas a narrativa da luta por direitos e resistência, escrita com suor e lágrimas, posto que, urdida com o sangue dos ancestrais escravizados.

Justo Evangelista foi o primeiro presidente da ACONERUQUE (Associação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas do Maranhão), líder sindical, vereador de atuação parlamentar aguerrida na defesa do homem do

campo e do povo preto; baluarte na luta antirracista e exemplo de conduta ética

ilibada ao longo de sua jornada existencial. Seu nome transcendeu as zonas limítrofes do Estado do Maranhão, tornando-se conhecido nos movimentos sociais e negros como referência.

Assim como Negro Cosme se rebelou contra as estruturas de opressão do colonialismo em suas manifestações multidimensionais, Justo Evangelista lutou a exemplo do herói do povo preto e conquistou vitórias na certificação e

titulação de comunidades remanescentes de quilombo junto à Fundação Cultural

Palmares, na defesa sindical dos trabalhadores rurais e na defesa do direito

sagrado à terra para os humilhados e ofendidos pela força motriz do latifúndio

que historicamente constitui uma tecnologia de empobrecimento das matrizes

capitalistas, patriarcais e coloniais que chagam a sociedade brasileira.

O culto e reverência à ancestralidade perpassa a expressão cultural de muitos povos oriundos da Mãe África, e Justo Evangelista tornara-se um ancestral que do orum intercederá pelo povo preto e por aqueles que a ele se

irmanam na luta antirracista e na garantia dos direitos fundamentais. Nós que

aqui no aiyê continuaremos a lutar pela igualdade racial, reverenciaremos esse ancestral para que seu legado seja perpetuado como modelo para os que hoje

militam e para os pósteros que haverão de militar.

Ao adentrar os portais do orum, quando Olorum perguntar-lhe o que fizera

de seus talentos, Justo Evangelista da Conceição não mostrará as mãos vazias,

pois multiplicara seus talentos. Hoje ele se junta a Zumbi, Dandara, Cosme e Marielle Franco, aos que tombaram resistindo nos tumbeiros e senzalas paraque nós hoje possamos cantar um canto de ashé.

Hoje o orum te recebe com tambor de crioula! Ashé companheiro Justo!

Obrigado por caminhar conosco, pois caminhando ao nosso lado nos ensinaste

a pisar o solo sagrado da resistência.

Joel Marques

Secretário Municipal de Políticas de Promoção da Igualdade Racial

 

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