JUSTO EVANGELISTA, GUERREIRO QUILOMBOLA QUE SE TORNOU ANCESTRAL.
JUSTO EVANGELISTA, GUERREIRO QUILOMBOLA QUE SE TORNOU ANCESTRAL.
Um provérbio africano afirma: "Até que os leões inventem as suas próprias histórias, os caçadores serão sempre os heróis das narrativas de caça" e o testemunho vivencial experienciado na existência de Justo Evangelista da Conceição nos permitiu construir uma nova narrativa. Não aquela dos latifundiários e donos do poder que exerceram e exercem seus mecanismos de opressão sobre comunidades remanescentes de quilombos e o homem do campo, mas a narrativa da luta por direitos e resistência, escrita com suor e lágrimas, posto que, urdida com o sangue dos ancestrais escravizados.
Justo Evangelista foi o primeiro presidente da ACONERUQUE (Associação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas do Maranhão), líder sindical, vereador de atuação parlamentar aguerrida na defesa do homem do
campo e do povo preto; baluarte na luta antirracista e exemplo de conduta ética
ilibada ao longo de sua jornada existencial. Seu nome transcendeu as zonas limítrofes do Estado do Maranhão, tornando-se conhecido nos movimentos sociais e negros como referência.
Assim como Negro Cosme se rebelou contra as estruturas de opressão do colonialismo em suas manifestações multidimensionais, Justo Evangelista lutou a exemplo do herói do povo preto e conquistou vitórias na certificação e
titulação de comunidades remanescentes de quilombo junto à Fundação Cultural
Palmares, na defesa sindical dos trabalhadores rurais e na defesa do direito
sagrado à terra para os humilhados e ofendidos pela força motriz do latifúndio
que historicamente constitui uma tecnologia de empobrecimento das matrizes
capitalistas, patriarcais e coloniais que chagam a sociedade brasileira.
O culto e reverência à ancestralidade perpassa a expressão cultural de muitos povos oriundos da Mãe África, e Justo Evangelista tornara-se um ancestral que do orum intercederá pelo povo preto e por aqueles que a ele se
irmanam na luta antirracista e na garantia dos direitos fundamentais. Nós que
aqui no aiyê continuaremos a lutar pela igualdade racial, reverenciaremos esse ancestral para que seu legado seja perpetuado como modelo para os que hoje
militam e para os pósteros que haverão de militar.
Ao adentrar os portais do orum, quando Olorum perguntar-lhe o que fizera
de seus talentos, Justo Evangelista da Conceição não mostrará as mãos vazias,
pois multiplicara seus talentos. Hoje ele se junta a Zumbi, Dandara, Cosme e Marielle Franco, aos que tombaram resistindo nos tumbeiros e senzalas paraque nós hoje possamos cantar um canto de ashé.
Hoje o orum te recebe com tambor de crioula! Ashé companheiro Justo!
Obrigado por caminhar conosco, pois caminhando ao nosso lado nos ensinaste
a pisar o solo sagrado da resistência.
Joel Marques
Secretário Municipal de Políticas de Promoção da Igualdade Racial